Corinthians, o Bicho Papão do Bicho Papão


Era para ser motivo de pesadelo. E muitos de nós torcemos como doidos para pegar o Newell’s Old Boys ou, sei lá, o Emelec, o Velez, ou o Palmeiras, nas oitavas de final da Taça Libertadores da América. Mas, ao final da última rodada da primeira fase, o chaveamento nos brindou com a equipe mais temida das Américas em todos os tempos. O Boca.

Minhas primeiras reações foram contraditórias. E, de certo modo, continuam sendo. Mas, noves fora, hoje estou achando que foi um bom negócio. Bom, não, um excelente negócio para o Corinthians.

O amigo Savarese, corinthiano ensandecido a quem eu encontrei ofegante e com os olhos mais esbugalhados do mundo na madrugada de 4 para 5 de julho do ano passado – o único homem do mundo que fica totalmente embriagado sem beber uma única gota de álcool – já havia me alertado lá de Londres: “Meu caro, o Boca do ano passado já não era lá essas coisas. O deste ano está pior ainda”.

Fui pesquisar. No fim de semana passado, nossos adversários ficaram no zero a zero contra o Belgrano lá na Bombonera. Chegaram, com isso, à nona partida sem vencer no campeonato Argentino. Só venceram na estreia e, de lá para cá, foram seis empates e três derrotas. Com 9 pontos, estão na 17ª colocação do torneio. O Newell’s, rival que tantos de nós desejamos, divide a liderança com o Lanús, com 22 pontos.

Da Libertadores para cá, nós perdemos o Martínez, para o próprio Boca, e o Cachito Ramírez para a Ponte, coincidentemente nossos rivais no mata-mata da Liberta e no mata do Paulista. Mas ganhamos Pato, Guerrero, Gil e Renato Augusto.

O Boca, por sua vez, só perdeu. O colunista Demian Meltzer, do “Olé”, descreve o estrago, num artigo em que nos chama de “o pior rival”. “Ninguém queria enfrentar o Corinthians”, disse ele, antes de listar que, depois da final de 2012, saíram Schiavi (aquele que deu o passe genial para o Sheik matar o jogo no Pacaembu), Roncaglia, Insaurralde e Mouche, “todos futbolistas a los que no pudo remplazar”.

Na partida contra o Belgrano, a torcida mais admirada do continente fez o que todas fazem quando o time vai mal: vaiou, exibiu notas de dinheiro, hostilizou e ameaçou os jogadores. “A ver, a ver, los jugadores si pueden oír… Con la camiseta de Boca, ganar o murir” foi o canto mais cantado pela Doce, enquanto o resto dos torcedores defendia os atletas.

A guerra na arquibancada lembrou o fatídico Palmeiras x Penapolense, no paulistão deste ano, quando a turma do amendoim entrou em confronto vocal com a Mancha Verde, que hostilizava os jogadores. Ou seja, se o Boca de hoje está lembrando o Palmeiras, é porque está a caminho do fundo do poço.

Há também relatos de bate boca em campo entre jogadores da equipe xeneize. E, para melhorar a coisa para o nosso lado, Riquelme saiu machucado e não deve jogar, pelo menos, a primeira partida, lá na Bombonera.

Mas o maior trunfo ao nosso lado é… (meu Deus, eu jamais imaginaria há menos de um ano que iria escrever isso algum dia). O maior trunfo para o Corinthians talvez seja o MEDO que o Boca, sua torcida e a imprensa argentina têm atualmente do Corinthians. Os tuítes de torcedores do time argentino, ao saberem da possibilidade de nos enfrentar, são reveladores. Veja 22 tuítes aqui.

Como bem lembrou o Savarese, o homem que fica bêbado só por causa do Corinthians, temos a grande oportunidade de fazer algo inédito, que nem o Paysandu conseguiu: ganhar em plena Bombonera deixar o Boca traumatizado com o nosso time.

Se simplesmente passarmos de fase, como tudo leva a crer, eis o que acontecerá: o Boca temerá o Corinthians, assim como o Palmeiras, o Fluminense, o Santos, o São Paulo temem o Boca.

Agora, se perdermos, teremos perdido para o Boca. O que torna o fato de enfrentá-los agora, antes talvez de ter tempo de esquentar os motores caso eles pegassem um Emelec da vida, um negócio ainda melhor.

Não terá sido nenhuma humilhação ser derrotado para a equipe que mais venceu a competição neste século e que, sem dúvida, ainda é o “Bicho Papão da América”. Só que nós vamos à Bombonera sem medo. Afinal, hoje nós somos o Bicho Papão do Bicho Papão.

O que vai acontecer? Aguardemos. A batalha começa na quarta-feira, 1º de maio, em Buenos Aires.

Vai, Corinthians!!!!!

Sobre Fabio Mura

Fabio Mura é corinthiano, jornalista e sofredor. Foi repórter dos jornais Folha de S.Paulo e Agora São Paulo, e teve passagens pelos sites UOL e R7, a agência Reuters e a revista Playboy, entre outros. Hoje trabalha como repórter da editoria de Internacional do jornal Valor Econômico.
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