Corinthians e a várzea do futebol brasileiro

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Faz mais de cem anos, o grupo de operários ao lado decidiu criar um time de futebol à luz do lampião, numa rua do Bom Retiro. O futebol era esporte de elite, praticado pelos mocinhos do São Paulo Athletic, do Club Paulistano, do Mackenzie e do Germânia. Mas um trabalhador braçal, dois pintores de parede, um cocheiro e um sapateiro batizaram de Sport Club Corinthians Paulista o clube que fez com que o povão paulistano se apaixonasse pelo esporte que, hoje, é a paixão nacional.

O high society nos ignorou solenemente. Por alguns anos, o Corinthians jogou campeonatos paralelos nas várzeas dos rios da cidade, impedido pelos riquinhos do ludopédio de disputar o Paulistão oficial.

Conta o Celso Unzelte, ilustre corinthiano, que na várzea o Corinthians ganhou popularidade, atraiu público e ficou maior do que todos eles. “O Galo da Várzea” foi o primeiro apelido do nosso amado Coringão. É uma pena que hoje, um século depois, o termo “várzea” tenha ganhado conotação tão negativa.

Digo isso porque “várzea” foi a palavra que me veio imediatamente à cabeça ao me inteirar do noticiário futebolístico do primeiro fim de semana do calendário nacional no ano da Copa do Mundo do Brasil.

Domingo à noite, o Amigão da ESPN diz que a CBF ofereceu R$ 4 milhões para a Portuguesa jogar a segundona di bouas, na santa paz, e deixar pra lá o tapetão que beneficiou o Fluminense. Uma proposta oficial, em papel timbrado, que a entidade que comanda o nosso futebol fez descaradamente, sem sequer corar as bochechas de vergonha, como diria o tio Nelson. Que várzea, amigos!

Na Paraíba, em meio à briga entre torcedores do Botafogo local e o Sport de Recife, a PM joga bombas de gás no meio da galera. O jogo tem que ser interrompido, porque o vento levou os gases para dentro do campo, e os jogadores passaram mal. Isso nem na várzea acontece.

No Sul, uma cena ainda mais patética. O Grêmio, que acabou de construir uma Arena “padrão Fifa”, joga no Estádio Passo D’Areia, em Porto Alegre, contra o São José. A grama é sintética, e o forte sol do verão gaúcho faz com que a temperatura do “Playbol Pompeia dos Pampas” suba a 67 graus! Os juiz para a partida, e os jogadores enfiam as chuteiras em baldes de água para refrescar os pés!!!  Barbaridade! Que Várzea, tchê!

No nosso Paulistão, aquele campeonato que vencemos pela primeira vez na várzea em 1914, o esdrúxulo regulamento faz com que o Penapolense seja líder do Grupo A apesar de ter zero ponto, assim como o lanterna São Paulo. Matematicamente, é possível que um clube seja campeão e, ao mesmo tempo, rebaixado.

“O Campeonato Paulista nasceu dessa motivação técnica do Corinthians, que tinha um time muito bom para continuar na várzea”, disse o mestre Unzelte. E agora, um centenário depois, será que o Corinthians é bom demais para continuar na várzea?

Não sei. O certo é que o Corinthians só será o gigante que pode vir a ser um dia quando o futebol brasileiro como um todo sair do pântano. Agora, na era Itaquerão, o Time do Povo terá que escolher pra que lado remar:

Quer disputar campeonatos interessantes, rentáveis, organizados e emocionantes, com o Itaquerão lotado? Ou o Paulistão continuará tendo 23 datas?

Quer ser capaz de manter um time bom e fazer grandes contratações mesmo em anos sem Libertadores? Ou vai vender o Edenílson, pegar 4 milhardos e pagar os atrasados pro Pato, que o clube comprou por mais do que efetivamente recebeu pelo Paulinho?

Quer um Brasileirão forte e vendido para o mundo todo ou prefere continuar sendo, para sempre, o Galo da Várzea que é nosso futebol?

Vai, Corinthians!

Sobre Fabio Mura

Fabio Mura é corinthiano, jornalista e sofredor. Foi repórter dos jornais Folha de S.Paulo e Agora São Paulo, e teve passagens pelos sites UOL e R7, a agência Reuters e a revista Playboy, entre outros. Hoje trabalha como repórter da editoria de Internacional do jornal Valor Econômico.
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3 respostas para Corinthians e a várzea do futebol brasileiro

  1. Fabio Mura disse:

    Cara, respeito sua opinião, mas acho isso uma grande bobagem. O naming right vai sair. Por quanto? Depende mais de a Globo dizer o nome do estádio do que da pobre Folha de S.Paulo. Abraços!

    • Fabio disse:

      Sim, vai sair, mas o apelido dificulta e desvaloriza naming right, não sei se vc está sabendo mas o BMG já se declarou q jamais botaria nome no estádio por conta do apelido, o próprio Andrés em entrevista recente declarou q o principal empecilho na hora de fechar acordo foram os apelidos. E eu tbm respeito sua opinião, mas maior parte da torcida do Corinthians entende o prejuízo q os apelidos dado a rena representa e repudiam, o próprio clube não aceita, então acho q vc como Corinthiano em um site dedicado ao Corinthians podia acatar a opinião do clube e dos torcedores e usar o nome provisório “Arena Corinthians”, e depois q sair o naming right chamar pelo nome correto.
      E vc está equivocado, não só a globo mas todos os meio de comunicação tem influência na imagem dos clubes, não só clubes como tudo q é abordado. Veja o caso da arena palmeiras, jornalista nenhum o apelidou de Barrafundão, respeitaram o clube e por isso não tiveram dificuldade pra fechar o naming right, e agora eles usam o nome correto Alians Park, e isso não é favorecimento da mídia para o palmeiras, e sim profissionalismo, coisa q não estão tendo com o Corinthians, e estão sim querendo prejudicar o Corinthians, jornalistas parciais, anti profissionais.
      Vide a “pobre” Folha de são paulo, criou um apelido, e sim.. foi com o objetivo de prejudicar o Corinthians, apelido q se alastrou pela mídia, folha de são paulo e estadão q são dois antros de bambi, estão sempre criando mentiras ou matérias tendenciosas para prejudicar o Corinthians, matérias q depois sites e portais postam para difamar mais o Clube.

      Obg por ter aceito meu comentário. Vlw.

  2. Fabio disse:

    Legal o seu texto mas por favor cara, pare de usar o termo Itaq***** no nosso estádio, vc como Corinthiano já deve estar sabendo que o apelido criado PROPOSITALMENTE pelo lixo da folha de são paulo para prejudicar o Corinthians já prejudicou, e por isso o Andrés ainda não conseguiu fechar o naming rights.
    Nada contra o bairro, pelo contrário.. acho q não havia lugar melhor que em Itaquera.

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